O resultado do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) do Ensino Fundamental de Mato Grosso divulgado recentemente e considerado "insuficiente" pode ser pior ainda em Mato Grosso. Para a vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público (Sintep/MT), Miriam Botelho, o processo de avaliação do Ideb não consegue traçar o retrato da escola, pois a avaliação deveria ser qualitativa e não quantitativa como ocorre atualmente.

O Ideb resulta da combinação de dois fatores: os indicadores de fluxo (taxas de aprovação, reprovação e evasão), medidos pelo Censo Escolar, e os indicadores de desempenho em exames padronizados como o SAEB e Prova Brasil, realizados a cada dois anos ao final de determinada etapa da educação básica (4ª e 8ª séries do ensino fundamental e 3º ano do ensino médio).

Mato Grosso atingiu, em 2011, metas previstas para 2015 no Ideb do Ensino Fundamental, segundo dados divulgados, no dia 14 de agosto, pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep). Os dados - 5,1 nas séries iniciais (1º ao 5º); 4,3 nas séries finais (6º ao 9º); e 3,1 no Ensino Médio - apontam avanços de até 2 pontos no comparativo com os índices divulgados em 2009 (4,9 séries iniciais; 4,2 finais do Ensino Fundamental e; 2,9 Ensino Médio). 

Para a Secretaria de Estado de Educação (Seduc/MT), o crescimento principalmente nas séries iniciais e finais do Ensino Fundamental está diretamente ligado ao controle do fluxo (relação aprovação, evasão e abandono), no qual o Estado lidera na região Centro-Oeste. "Esse foi um avanço que conseguimos com o acompanhamento das crianças e a política de incentivo da permanência dessas crianças junto às famílias e comunidades escolares", afirma.

Segundo a vice-presidente do Sintep/MT, esses dados não traduzem o aprendizado do aluno. Ela observa que não se pode levar em consideração a permanência do aluno na escola com fator de qualidade da educação, pois muitas famílias carentes incentivam a permanência da criança na escola para receber os recursos dos programas sociais do governo federal, como o Bolsa Família. Em relação ao desempenho dos alunos, considera que se aferido notas, numa escala de 0 a 10, quem conclui o ensino médio com 3,1 não consegue ingressar no ensino superior e nem se inserir no mercado de trabalho. 

Miriam Botelho aponta que o Ibeb assume uma lógica perversa. Acaba sendo mais um instrumento regulatório do que um definidor de critérios para uma melhor aplicação dos recursos da União, visando alterar indicadores educacionais. O resultado de cada município e de cada Estado está sendo utilizado para ranquear as escolas, acirrar a competição entre as redes e pressionar, via opinião pública, o alcance de melhores resultados como responsabilidade apenas da escola e do professor.

Outro ponto destacado pela sindicalista é a qualificação do trabalhador da educação. Segundo ela, em Mato Grosso o governo implantou o sistema de Ciclo de Formação Humana nas escolas, mas "esqueceu" de realizar a formação desses profissionais para trabalharem de acordo com a proposta. Além disso, "as próprias universidades do país ainda continuam formando professores para atuar no sistema seriado, sem dialogar com a proposta pedagógica da escola completa".

Para que fosse retratada a realidade da educação no país seria necessário levar em consideração alguns pontos importantes como: o processo de avaliação de cada escola; o próprio ambiente escolar; a prática pedagógica da escola; e as condições de trabalho do profissional da educação. "Para progredir na qualidade do ensino não basta apenas querer manter o aluno na escola e evitar a evasão", avalia.

Mudanças

Miriam Botelho concorda com as afirmações do secretário de Assuntos Educacionais da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Heleno Araújo Filho, de que fazer qualquer mudança com base apenas no resultado do Ideb é um equívoco. Segundo ele, o Ideb é um instrumento incapaz de fazer uma verdadeira avaliação da educação básica. Por consequência, as medidas anunciadas pelo governo não irão, sozinhas, resolver a situação.

Problemas centrais, como a falta de uma política de valorização dos profissionais da educação e os baixos salários que afastam os melhores profissionais da carreira, além da excessiva prática de terceirização e contratação temporária nas redes municipais e estaduais por falta de concurso público, não estão contemplados como deveriam.

"O governo federal e estadual têm que se preocupar em ter um ambiente de estudo adequado. A partir daí, precisamos de uma política de formação continuada dos profissionais que atuam na escola para contribuir com o professor e garantir incentivos aos nossos estudantes para permanecer na escola", ressalta Heleno Araújo.

A educação em tempo integral precisa vir acompanhada de uma melhora da infraestrutura geral das escolas, já que a maioria das instituições sofre por não ter equipamento suficiente, convivem com salas superlotadas sem ventilação adequada e um local apropriado para desenvolver as atividades.

 

 

 

Cuiabá, MT - 29/08/2012 00:00:00


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