A organização não
governamental (ONG) Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes
(Educafro) defendeu hoje (26) a adoção de cotas em favor de afrodescendentes e
de populações carentes no programa Ciência sem Fronteiras - que concede bolsas
de estudo de mestrado, doutorado e pós-doutorado em universidades no exterior.
O assunto foi tema de
audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do
Senado Federal. Desde janeiro deste ano, 1,5 mil estudantes foram contemplados
com bolsas de estudo em universidades dos Estados Unidos e do Canadá pelo
programa Ciência sem Fronteiras. Até o final do ano, a expectativa é que esse
número chegue a 20 mil. O intuito do programa é conceder 100 mil bolsas até
2015.
O Educafro considera que a
maior parte da população brasileira (mais de 51% que se declara
afrodescendente) fica em situação de desigualdade em iniciativas como essas no
país. O programa é desenvolvido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e
Inovação com a participação do Ministério da Educação.
A entidade cobra medidas
especiais do governo para eliminar "desigualdades historicamente
acumuladas, garantindo a compensação de perdas provocadas pela discriminação e
marginalização decorrentes de razões raciais, étnicas, religiosas e de
gênero". A ONG pretende colher 100 mil assinaturas para fortalecer a luta
pela inclusão de negros no programa.
Para o diretor de Engenharia
do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), Guilherme Sales, há intenção dos
setores envolvidos com o programa de bolsas "de trabalhar juntos" com
as representações dessa população a fim de minimizar as diferenças que
dificultam sua participação no programa. Ele disse que já estão alocados os
recursos para custeio de 75% das bolsas, sendo que os 25% restantes virão da
iniciativa privada.
Para o diretor do Educafro,
frei David Santos "o governo e o Congresso estão desenhando um Brasil novo
para reduzir as disparidades sociais, mas existe ainda uma reação dura de parte
dos membros do Executivo que dificulta a ascensão dos negros, contra a própria
prioridade que a presidenta da República já declarou para o
programa".
Ele constata que o Brasil
tem menos negros nos campi universitários do que a África do Sul, na época do
apartheid. Da forma como está, segundo ele, "os países que vão receber os
estudantes brasileiros vão ter uma imagem irreal do Brasil. Não queremos
políticas novas com hábitos velhos, pois há o predomínio dos eurodescendentes,
num processo de meritocracia injusta que alija os mais pobres",
declarou.
O reitor da Universidade
Zumbi dos Palmares, José Vicente, disse que pelo menos 2 mil jovens negros
entre os que estudam na instituição têm interesse em participar do programa
Ciência sem Fronteiras.