Gaúcha de Condor/RS, formada pela UFMT em história, e professora licenciada da mesma instituição, teve a sua trajetória marcada pela batalha por dias melhores para vulneráveis.
O direito humano das mulheres contou, e muito, com a sua força. Era conselheira no Conselho Estadual dos Direitos da Mulher do Estado de Mato Grosso. Ajudou na criação do Fórum de Articulação das Mulheres de Mato Grosso.
Organizou e contribuiu para todas as quatro conferências estaduais de mulheres, sendo delegada escolhida em todas. Era mentora, também, das Marchas de Mulheres de Mato Grosso.
Teve participação efetiva no Fórum Mato-grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento (Formad), na Comissão Estadual de Erradicação do Trabalho Escravo (Coetrae), no Fórum de Direitos Humanos e da Terra (FDHT/MT), e, no Conselho Estadual de Direitos da Pessoa Humana (CDDPH).
Marli não enxergava obstáculo capaz de fazê-la parar de atuar em benefício dos menos favorecidos e favorecidas. Com o salário mensal de professora, não raras vezes, era possível presenciar assinando cheques e entregando dinheiro para contribuir com viagens e marchas.
Marli não enxergava obstáculo capaz de fazê-la parar de atuar em benefício dos menos favorecidos e favorecidas. Com o salário mensal de professora, não raras vezes, era possível presenciar assinando cheques e entregando dinheiro para contribuir com viagens e marchas
Relatava alguns fatos que ficaram indeléveis em sua memória, principalmente na época em que passou a fazer parte do movimento sindical em 1988. Segundo ela: "Foi um período muito difícil. Precisávamos organizar o sindicato, mas faltava estrutura e recurso".
Certa vez, com os companheiros de caminhada Elismar Bezerra e Clóvis Arantes, no município de Água Boa/MT, dividiram um sanduíche em três pedaços, para garantir o jantar.
Sobre a ocorrência, ela afirmou: "Este fato ficou marcado na minha memória como grande aprendizado de solidariedade e determinação no movimento sindical".
Quando descobriu o câncer de mama em 2014, em momento algum se mostrou desanimada. Contou com o apoio incondicional do MTMamma, tendo gravado propagandas sobre a prevenção da enfermidade. Não falava o nome da doença, chamando de qualquer coisa como "trem".
A professora Marli era algo que transcendia. Nas muitas reuniões em que participava, costumava escutar calada, para, após, contribuir positivamente. Ultimamente, antes que o "trem" a fizesse ficar acamada, respondia pela Secretaria da Mulher Trabalhadora da CUT-MT.
Pela sua veemência em tratar assuntos que para ela eram primordiais, tal como os direitos humanos, contou com a crítica de muitos e muitas. Porém, nada a atingia. A sua grande preocupação era trabalhar incansavelmente pela população menos favorecida de capital e conhecimento.
Na Praça da República, em dezembro de 2012, munidas de cartazes, faixas e batuque, em pleno sábado, sol de Cuiabá e alegria feminista, pedimos por respeito às mulheres. Conosco a vereadora Lucia (Cáceres/MT), que também veio a óbito anos depois, por complicações do câncer de mama. Fica a saudade...
Na verdade, era senso de todas, que a amiga Marli viveria por muitos anos no mundo dos encarnados e encarnadas.
O entusiasmo com o qual costumava gerir a estadia terrena não dava margens para a partida... Agora só restam lembranças... Aqui continuaremos, suas irmãs de luta, a brigar por dias melhores para as mulheres...
A despedida não existirá jamais... Porém, a seu gosto, como costumava brincar chamando a todas de "Muié": Descanse, Muié!
Marli Keller presente!
ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS é defensora pública estadual em Mato Grosso.