Relatos registrados pelo Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público de Mato Grosso (Sintep/MT), no primeiro mês de retomada das atividades escolares não presenciais, na rede estadual, revelam o alto índice de frustração e angústia dos/as professores/as e estudantes, diante das aulas remotas e apostiladas. O aligeiramento do calendário escolar, sem planejamento, sem organização, sem construção coletiva, sinaliza resultados preocupantes para a Educação Pública nos próximos anos, para além daqueles já impactados pela pandemia. 

Estimativas relatadas pelos professores com base na participação dos estudantes apontam que mais de 50% dos matriculados nas salas virtuais estão desconectados ou pela falta de acesso a equipamentos e à internet, entre outros. Para muitos é inviável aprender sem o acompanhamento mais direto de um professor.  “A dificuldade de acesso comprometerá a conquista histórica da universalização do ensino”, acredita a professora Coraci Machado de Araújo, de Ribeirão Cascalheira.

Exclusão

A professora Coraci destacou as dificuldades enfrentadas pelos estudantes que usam a internet, devido a qualidade do sinal necessário para suportar a conexão da plataforma “Teams”, mais ainda é pior e mais excludente, acredita ela, aqueles que dependem das apostilas. “Não têm como esclarecer as dúvidas. Muitas vezes os pais preferem nem mesmo pegar o material”, relata.  

Em Cocalinho, o professor Israel Alves de Souza, fala da angustia pela baixa frequência nas turmas virtuais. “Têm turmas com 30 matrículas, mas o acesso virtual é de dois ou três”, diz.  Para Israel, o ano letivo será duplicado, pois a retomada das aulas presenciais exigirá revalidar o ensino dado. “Será um duplo trabalho, diante de um esforço enorme que a Seduc está exigindo do professor”, destaca.

Entre os vários obstáculos que professores e estudantes encontram, como a falta de equipamentos, a internet em boas condições para acesso a plataforma de estudos é o maior deles.  “Isto desmotiva estudantes a acompanharem os estudos online. Quer queira ou não gera ainda mais prejuízos na aprendizagem dos mesmos, além de transtornos diante do que os professores planejam para ser trabalhado diariamente. Cada comunidade escolar tem sua realidade”, acredita a professora Karita Carlos de Souza. 

Sobrecarga

A jornada de trabalho dos professores foi alterada de modo invisível. Ao trabalharem no formato virtual e apostilado, “propostas diferentes demandam dois planejamentos e dois atendimentos, o que promove a sobrecarga de trabalho”, cita Coraci. 

O professor Israel lembra que apesar de grupos utilizarem o aplicativo para conversar com as turmas, o celular é o particular dos educadores. Com isso, os questionamentos dos estudantes não têm hora. ‘Com acesso ao número junto com a ansiedade mandam mensagens ou ligam a qualquer hora, já recebi mensagens às 23 horas, sábado, domingo e feriado”, relata.

Além do excesso de trabalho no atendimento remoto, os professores estão imersos em uma forma exaustiva para dar conta da demanda imposta e exigida pela Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso (Seduc-MT). 

“As exigências nos fazem trabalhar para além das 30 horas semanais. Temos que elaborar o planejamento mensal e semanal, roteiros de estudos para alunos com e sem acesso à internet, alimentar a plataforma Teams e o SIGEDUCA, gravar videoaulas, ministrar aulas ao vivo, ir em busca dos alunos e motivá-los para os estudos, atender as famílias, construir portfólio para provar que estamos trabalhando e atendendo os alunos”, destaca a professora Ana Cristina Cruz, de Poconé. 

Tecnologia

A professora Larissa Reis, de Chapada dos Guimarães, registra um desafio ainda maior por ser interina na rede estadual. Após dois meses sem salário, no início do ano, como regularmente acontece com os temporários, sofreu duplamente com a pandemia, que somou mais de cinco meses desempregada, e sem o direito ao auxilio emergencial que foi aprovado na Assembleia Legislativa, mas negado pelo governo.

O anúncio aligeirado, após quase um semestre para iniciar o ano letivo, na rede estadual, a coloca no turbilhão de demandas e exige que ela dê conta até mesmo de bancar toda a estrutura necessária para atender os estudantes.

Foi fato que a retomada do ano letivo chegou às avessas, pois primeiro informaram os pais e depois os professores. Sem consultá-los, empurraram uma prática desconhecida das quais aprenderam por tutoriais para trabalhar com a plataforma, e utilizar os recursos para as atividades pedagógicas (vídeos, áudios, imagens). 

“A Seduc/MT transferiu para o professor os valores da conta de energia, de banda larga, de equipamentos para atender as atividades remotas, e o levantamento dos estudantes que tinham acesso à internet, repassando para o professor a responsabilidade de ligar para os estudantes”, afirma o professor Victor Rigotti, de Juína.

Assessoria/Sintep-MT

Cuiabá, MT - 22/09/2020 19:01:31


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