Tudo começou quando o professor notou um certo padrão enquanto os alunos preenchiam o questionário sociocultural do Enem. Embora a maior parte fosse negra ou parda, quase todos tinham dificuldade para marcar alternativas sobre a cor da pele. Pressionadas pelo padrão europeu de beleza, as meninas espichavam os cabelos crespos, clareavam o rosto com cosméticos e evitavam usar roupas ou adereços de inspiração afro, enquanto os meninos não guardavam elogios para o nariz ou os lábios grossos.

A discussão sobre origem e etnia foi parar na sala de aula, e o professor Jayse Antônio Ferreira, de 34 anos, transformou o desconforto num projeto exaltado em todo o país. Com o apoio de alunos e pais e o engajamento da comunidade, ele desenvolveu a ação "Eu sou uma obra de arte: etnias do mundo" na Escola Estadual Frei Orlando, em Itambé, a 92 quilômetros do Recife, onde a maior parte da população vive da lavoura açucareira. Foi uma imediata injeção de autoestima nos adolescentes e um reconhecimento do trabalho do instrutor de artes, eleito o melhor professor do ensino médio no 8º Prêmio Professores do Brasil, entregue pelo MEC, semana passada, em São Paulo.

- No questionário do Enem, eles ficavam com vergonha de se definir como negros, pardos ou mestiços. E deixavam espaços vazios. Observei que a dificuldade não estava em marcar uma alternativa, mas em se reconhecer como não brancos, já que o preconceito no Brasil é com biótipos socialmente marginalizados - lembra o professor, que levou para a sala imagens de povos do mundo, exaltando traços físicos, características e belezas inerentes. - Cabelo que chamam de ruim, por exemplo, não é ruim, é crespo, uma característica negra. Mas as alunas não viam assim.

Após a discussão sobre etnias de 22 países de todos os continentes, foi preciso identificar alunos que tivessem traços desses povos. Devidamente caracterizados, eles foram fotografados (em locações da região) em trajes típicos. Contaram com apoio de comerciantes, que emprestaram roupas e fantasias, e com o trabalho voluntário de um maquiador e um fotógrafo. Representaram desde mulheres-girafa da Tailândia a indígenas da Guatemala, de nativos da Namíbia a povos de Israel, China, Índia...

Os alunos se envolveram com afinco nas pesquisas. Para a diretora do colégio, Marylane Rufino, o resultado é motivo de orgulho:

- Foi um projeto perfeito. Somos uma escola de periferia, com alunos muito carentes, que não confiam no próprio potencial. Hoje a gente percebe que eles se orgulham de suas origens e se reconhecem como capazes.

Fonte: O Globo.

 

Cuiabá, MT - 16/12/2014 16:15:00


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