Começou por Rondonópolis a primeira de uma série de audiências públicas para discutir o Ensino Ciclado em Mato Grosso. Promovida pela Assembleia Legislativa (AL) e requerida pelo deputado Wilson Santos (PSDB), as discussões foram abertas na Câmara de Vereadores e contou com o recado da árdua defensora do Ensino, com base no Ciclo Aprendizagem, a professora doutora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Jorcelina Barbosa Fernandes. “Preste atenção Wilson, retrocesso, nem pensar!

A fala da professora Jorcelina tem razão de ser. A concepção ciclada de ensino, atualmente em vigor na rede estadual de Mato Grosso e também em muitas redes municipais no Estado, começou a ser implantada de forma impositiva nas escolas públicas estaduais nos anos 2000. O mesmo partido do deputado que está promovendo as audiências governava o Estado na época. Cabe então suscitar quais são as reais intenções do representante da AL ao promover o debate.

O recado já foi dado pela educadora pesquisadora da UFMT que tem acompanhado, por mais de uma década, o quem tem sido a tentativa de se organizar o fazer pedagógico nas escolas estaduais por ciclo de formação humana.  

Os argumentos para sua implantação eram a necessidade de enfrentar os péssimos resultados advindos da seriação e a avaliação dos limites e fragilidades desse sistema de ensino. Na época, o Sintep-MT alertou que a política desempenhada pela Seduc-MT não oferecia as condições mínimas para a transformação das aprendizagens que o Ciclo requer.


Histórico

Durante um seminário realizado em 2002, em Cuiabá, foram apontados dois grandes desafios em termos de superação das péssimas condições de aprendizagem a partir do Ciclo: a adequação do tempo (currículo, ano letivo, formação de estudantes e profissionais da educação) e do espaço das escolas e salas de aulas (construção de uma nova organização espacial de convivência). Para o professor convidado, Luís Augusto Passos (UFMT), sem as transformações dessas duas condições, “o ensino por Ciclo jamais superaria as marcas e os péssimos resultados do ensino seriado”.

A própria professora Jorcelina, em outros momentos de discussões, sempre alertou para estas e outra condição essencial na implantação do Ciclo; a formação inicial e continuada dos profissionais da educação. O fato é que, do início dos anos 2000 até hoje, os profissionais na escola, em especial os professores, continuam recebendo nas universidades formação docente  para atuar no sistema seriado, sem as mínimas condições de superá-lo.

Superficialidade 

Na audiência de Rondonópolis, pouco se debateu sobre a Resolução 262/2002, que trata da implantação do Sistema de Ensino por Ciclo. Uma avaliação realizada em outra conferência sobre o tema, já apontava que a organização prevista na normativa sequer foi implantada. Em algumas situações, os processos estabelecidos foram ao contrário ao que preconiza a portaria. Entre os exemplos está o papel do professor Articulador que passou a ter uma função de professor de apoio/reforço escolar.

Os presentes na audiência de Rondonópolis puderam perceber que a questão em debate é muito mais complexa do que se avalia e não será resolvida com ações pontuais. Não serão com jornada de 40 horas semanais, horas atividades de professor para aula de reforço, nem tendo o IDEB como única referência de avaliação que conseguiremos resolver o problema da aprendizagem de nossas crianças, jovens e adultos.

O problema da não aprendizagem inicia na educação infantil e percorre toda a vida escolar. A falta de investimentos na educação infantil, base e princípio de toda a construção do conhecimento é a gênese do fracasso escolar. Para os educadores, uma base fragilizada (menos de 30% das crianças frequentam a escola desde a creche) geram os problemas perpassam o Ensino Fundamental e culminam no Ensino Médio: grande evasão, repetência e analfabetismo funcional.

O país investe há 20 anos prioritariamente no Ensino Fundamental, por isso o melhor resultado do IDEB se encontra nesse índice. Contudo, os dados apontam que já nos anos finais do Ensino Fundamental há crescente grau de dificuldades. Também na EJA é possível perceber o resultado da falta de investimento em educação: alto número de profissionais contratados, contratos precários, falta de infraestrutura (biblioteca, laboratórios, internet) e em termos de matrícula, a “juvenilização” das mesmas.

Conclusão

Para a presidente da subsede do Sintep de Rondonópolis, professora Maria Celma de Oliveira, presente na sessão, não será preciso esperar o final dessas audiências para saber qual caminho a trilhar para mudarmos os rumos das nossas escolas e dos nossos estudantes. “O problema é que não há interesse de quem está promovendo as audiências, em fazer a coisa certa. Porque se fosse assim, já teriam feito no início da implantação do Ciclo em 2000”.

Conforme ela, com certeza, nas audiências, não houve/haverá por parte do Deputado nenhuma proposta de investir 35% da arrecadação em educação pública, como está previsto na Constituição de Mato Grosso. “Duvido que aceite valorizar aquele profissional que atue exclusivamente em uma jornada e uma única escola. Tampouco vai haver aqui, proposta de que o Estado tem que assumir mais matrículas, uma vez que a responsabilidade está ficando apenas para os municípios, que apresentam dificuldades crescentes em atender a demanda que lhe é própria; a Educação Infantil”, disse.

 

Sintep-MT

* atualizada

Cuiabá, MT - 27/03/2015 12:58:59


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