Informaram-me nesta manhã, que você partiu. Depois dessa última luta, tão dura e doída, você merece gozar o descanso das pessoas que se fizeram grandes por suas decências, por suas lutas, pelo Amor que as fizeram singulares.

Na sua simplicidade,  nos seus silêncios inteligentes, na fala mansa, carinhosa, fez-se uma grande mulher. Dói a sua partida!

 

Lembro-me, quando, décadas atrás, o João Monlevade e eu, fizemos a sua mudança de Diamantino para Cuiabá; o velho carro do João, parece que se expandiu para caber suas coisas e nós dentro dele. Era uma Companheira do interior que se mudava para a capital, para dali seguir com a luta político-sindical por todo o Estado, a partir da Direção Central do Sintep. Seus filhos eram muito crianças naquele então, de modo que você teve que conjugar a luta política com os cuidados e responsabilidades de mãe -  e fez tudo exemplarmente.

 

Não sei quantas viagens fizemos, Mato Grosso adentro, organizando o Movimento, construindo a Entidade. Mas, lembro muito das nossas longas conversas nas estradas de poeira e buracos sem fim, com o João, com o Clóvis, com a Zuleika, com o Eudes, com a Diana, com a Ivanides, com a Marilia, com o Joãozinho ... Ainda me comovo, quando lembro da generosidade dos nossos Companheiros e Companheiras de Luta. Era um tempo de muito pouca estrutura para os nossos trabalhos , mas de muita disposição e esperança; hospedavamos  nas casas de nossos Companheiros e Companheiras do interior, comíamos ali, sonhávamos com eles e elas, dividindo nossas alegrias e preocupações - assim dávamos  à luta por inteiro, com uma Fé que nos foi moldando moral e ética mente. Fizemos o Movimento e o Movimento nos fez!

 

A última viagem que fizemos juntos foi à Pedra Preta, para enterrar o companheiro Zé Luiz. Estivemos juntos depois, não me esquecerei. Já não tínhamos mais os 20 e poucos ou 30 e poucos anos de outrora, estávamos cheios de memórias e saudades - e crendo  na Luta que Liberta. Sem algumas ingenuidades do começo, e com a consciência desconcertante de que tudo é um processo, de que fim não existe; que outros necessariamente continuarão depois de nós, porque a materialidade burguesa não se dissipará per si ...

 

 Imagino agora, que se encontrará com o Lucas, com a Dora, com o Joãozinho, com a Lúcia,  com "Seo" Zé, com o Eudson,  com o Zé  Luiz ...  Imagino que será um belo encontro, de muita alegria,  recordando as greves, as ocupações, as Caminhadas,  nossas estratégias e procedimentos para as reuniões e negociações,  nossos medos e indecisões, nossos acertos e coragem, nossas festas ... o Amor que nos fez eternos!

 

Faz tempo que não vejo os seus filhos; quanta dor devem estar sentindo com a sua partida? essa dor maior, que não tem alívio, profunda,  sem fim, que nós, teus amigos e amigas sentimos, mas sem a dimensão de quem  é Filho. Agora, você sabe de nós, o que não sabemos de você aí - então, pelo que  imagino e creio, peço que nos ilumine na travessia deste tempo e lugar. Fica o seu exemplo de luta sincera e imprescindível com os Trabalhadores e Trabalhadoras, a lembrança do seu sorriso cativante, dos seus gestos de mansos e ternos ; e tudo, Marly, que o seu Amor indicou para a Vida.

 

Que esteja em paz , Marly - 

 vivendo com a Ternura Superior. Elismar Bezerra Arruda

Cuiabá, MT - 09/01/2018 11:57:18


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