Dirigentes destacam também necessidade de reaproximar movimento sindical aos jovens trabalhadores

Em atividade nesta quinta-feira (30), na cidade do Recife (PE), o secretário-geral da CUT, Sérgio Nobre, afirmou que o programa Escola Móvel continuará e destacou que todas as estaduais de Central passarão a contar com um formador em seus quadros. O anúncio ocorreu em seminário internacional que a Escola Sindical Nordeste promove até esta sexta (31), na capital pernambucana.  
A Escola Móvel é um programa da Central que viaja com um micro-ônibus por cidades do interior nordestino para promover desde debates sobre problemas locais até cursos de informática e exibição de filmes. A estimativa é que já tenha atendido a mais de cinco mil pessoas em todos os estados.
O projeto iniciado em novembro de 2010, em parceria com o Instituto Sindical de Cooperación AL Desarrollo (ISCOD), da Espanha, e com o Instituto Sindicale per La Cooperazione allo Svilppo (ISCOS), da Itália, será mantido, segundo Nobre, com recursos da CUT.
Ainda de acordo com o dirigente, ampliar o investimento em formação é fundamental para transformar a estrutura sindical que ele julga defasada. "Temos que repensar a forma de atuação. Os ramos devem trabalhar de maneira integrada e, por isso, estamos organizando a discussão por macrossetores. Mas, para realizar essa transformação e outras precisamos apostar numa formação que prepare o dirigente para lutar por essa mudança", disse. 
Representantes da Union General de Trajadores de España (UGT), da ISCOD e da Escuela Julian Bestero, primeira escola sindical da Espanha, Aida Rodriguez, explicou a motivação das entidades internacionais ao integrarem o projeto. 
"Quanto mais formação, mais instrumentos de luta. Não podemos excluir da qualificação os que não têm dinheiro para sair de suas regiões."

Nova linguagem
Para o presidente da CUT-PE, Carlos Veras, a comunicação sindical também deve ser renovada para dialogar com os jovens trabalhadores. "Não dá mais para fazer uma conversa no refeitório de uma empresa, como fazíamos antigamente. Nossa forma de abordagem precisa ser diferente, precisamos dialogar com a nova geração para saber como devem ser o boletim, o jornal, os seminários para que se sintam parte desse processo. Não podemos perder de vista as nossas raízes, mas também não dá para dizer que a juventude não quer participar, se não escutamos o que tem a dizer."
Ainda sobre esse processo de transformação, o secretário-geral da Confederazione Italiana Sindicati Lavoratori (CISL), Alessandro Alberani, acredita que a mudança começa dentro da própria direção.
"Os sindicatos da Itália estão fazendo uma grande reforma. Muitas pessoas tiveram que ir pra casa para dar espaço a outros, porque sem jovens não dá pra se comunicar com a juventude. Na Itália, criamos uma emissora de TV só dos sindicatos, mas não basta, precisa mudar a linguagem porque muitas vezes não faz sentido para a maioria das pessoas."

Formação crítica
Enquanto a primeira mesa abordou a importância da formação, a segunda destacou o papel de Paulo Freire na construção dos cursos que lapidaram os dirigentes sindicais ao longo das últimas décadas.
"A CUT nasceu com o contexto de educação popular e a concepção Freiriana, de educação integral, de trabalhar as vivências que cada um trás e, principalmente, o processo de construção coletiva", lembrou o secretário adjunto de Formação, Admirson Ferro Júnior, o Greg.
O dirigente citou o projeto de trabalho doméstico cidadão, desenvolvido pela Escola Nordeste, que ajudou a mostrar às domésticas a importância de estarem organizadas em sindicatos e dentro do Congresso para mudar as leis.
Entre as próximas ações, Greg citou o desenvolvimento de oficinas com sindicatos não filiados para apresentar as concepções da Central e a ampliação da atuação para o interior dos estados. "Queremos fazer com que os dirigentes voltem a ser utópicos, voltem a sonhar grande, porque se isso não existir, não vamos conseguir dar grandes passos", avaliou.
Formar para a vida - Representante do Centro de Estudos e Pesquisa Paulo Freire, Agostinho Rosas, definiu aquilo que julga ser a base do conhecimento que deve ser levado ao trabalhador.
"A discussão sobre formação deve ser técnica, para que ele esteja habilitado a ocupar o posto de trabalho, mas também crítica, centrada na qualidade de vida humana e não no mercado de trabalho."
A representante da União de Profissionais e Trabalhadores Autônomos (UPTA)-UGT, Natália Cera, falou sobre a importância de reunir associações dispersas para garantir unidade na discussão com governos. Ela também contou que a atuação da entidade culminou numa legislação para o trabalhador autônomo, considerada a mais avançada de toda a União Européia.
Estratégia que é compreendida desde o princípio pela CUT, conforme destacou a coordenadora-geral da Escola CUT Nordeste, Lúcia Silveira.
"Em 1999, a Central criou a Agência de Desenvolvimento Solidário (ADS), porque entendemos que também éramos responsáveis pelos excluídos do mercado de trabalho. A primeira iniciativa foi criar cooperativas de crédito, mas percebemos que só crédito não iria resolver e era necessário pensar toda a cadeira produtiva", recordou.
Em 2007, pensou-se na forma comercialização e surgiu o Conexão Solidária para representar de empreendimentos e entes da Central. E, a partir daí, passou a discutir-se a formatação de redes para negociar e comercializar, avaliar tempo e capacidade de produção, fatores que permitiram a inserção em grandes lojas.
Com a experiência de ser um dos fundadores e o primeiro presidente da Unisol Brasil, instituição que hoje possui 800 cooperativas e representa mais de 700 mil trabalhadores, o atual secretário de Formação da entidade, Cláudio Silva, comentou a necessidade de ver a economia solidária sob o aspecto do desenvolvimento e não da precarização.
"Temos que olhar o segmento como uma forma de trazer uma nova forma de produção com qualidade. O grande obstáculo é que somos ensinados a ter um bom emprego, mas não a organizarmos cooperativas. E mudar uma cultura não é fácil."

Projeto em disputa

Para a integrante da secretaria Executiva do Fórum Nacional de Economia Solidária, Rosana Pontes, os produtores da economia solidária, o que falta é condição para produzir. "A economia solidária é possível, é viável, mas queremos uma legislação que nos permita desenvolver nosso trabalho e não sermos tratados como grande empresa de cosmético ou de limpeza."
Da mesma forma que o dirigente da Unisol, o representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Demétrius Fiorante, lembrou que defender essa forma de produção é estar ao lado de outro modelo de desenvolvimento. E alertou para a necessidade de mobilização dos movimentos sociais.
"O Legislativo não atualiza os índices de produtividade da terra, o Judiciário reverte a decisão de desapropriar terras. Não podemos esquecer que o governo ganhou as eleições com a composição bancários e banqueiros, agricultores e donos de agronegócio apoiando a mesma chapa e estamos disputando lá dentro. Todo dia a gente mata um leão dentro do MDA, é uma batalha diária. É preciso grande mobilização da sociedade também. Hoje, 30% da merenda escolar tem de vir da agricultura familiar e isso é uma vitória. Mas temos de avançar no tema da organização produtiva e muitas entidades se perdem quando vão além do debate político. Esse é o processo que está em transição. Então, vamos disputá-lo."

Cuiabá, MT - 31/05/2013 00:00:00


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