Há 40 anos, no dia 10 de
outubro de 1971, um padre prestes a ser bispo pensou no que poderia apresentar
na cerimônia de posse, realizada dia 23 do mesmo mês do mesmo ano, que fosse
transformador. Era Dom Pedro Casaldáliga, ainda aos 43 anos, que, pelo trabalho
em favor dos direitos humanos e pelo direito a terra, hoje tem projeção
internacional. Resolveu aquele padre apresentar uma carta que desse conta de
localizar geopoliticamente a região onde milita; mostrar como as coisas
funcionam nos rincões do país, quem manda, quem é mandado; de retratar o homem
do campo, esse ser forte, explorado; que denunciasse o latifúndio, o trabalho
escravo; que tirasse esses problemas da invisibilidade. A carta "Uma Igreja da
Amazônia em conflito com o latifúndio e a marginalização social", apresentada
por ele, não só expõe esse cenário, como também conclama a igreja a sair de sua
centralidade eurocêntrica e atuar nesses rincões, contra tais mazelas e outras.
Foi a primeira vez que se falou claramente em latifúndio, em trabalho escravo,
O Centro Burnier Fé e
Justiça guarda em seu acervo a edição original da carta.
Para marcar a data, no dia
10 haverá uma noite celebrativa dos 40 anos da carta de Dom Pedro Casaldáliga,
a partir das 18h30, no salão da Igreja do Rosário e São Benedito.
Na mesma noite, movimentos
sociais vão lembrar também a morte do padre João Bosco Burnier, que dia 11 de
outubro de 1976, foi baleado, quando ele e Dom Pedro faziam uma intervenção em
favor de camponesas presas injustamente em uma delegacia de Ribeirão
Cascalheira. Burnier morreu no dia seguinte.
O espanhol Dom Pedro
casaldáliga, radicado no Brasil desde 1968, tem hoje 83 anos, sofre do Mal de
Parkinson, está com saúde frágil, mas não deixa de passar aquela força, quando
fala sobre a vida militante, como fez na última Romaria dos Mártires, realizada
em 16 de julho deste ano,
Dom Pedro fez a escolha
pelos pobres, marginalizados e pelas minorias e não se esquiva de fazer as
defesas dos movimentos sociais, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem-Terra (MST). Veja aqui.
A noite celebrativa, que será aberta ao povo, está sendo organizada pelo Fórum de Direitos Humanos e da Terra Mato Grosso.