Cobrar aceleração no
processo de demarcação das terras indígenas no país e fazer um contraponto ao
modelo econômico e ao conceito de economia verde - discutidos na Conferência
das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20) - são os
principais objetivos dos povos indígenas que se reuniram hoje (15) na tenda do
Acampamento Terra Livre, na Cúpula dos Povos, no Aterro do Flamengo, zona sul
do Rio de Janeiro.
Em meio a muitas
manifestações culturais - como a das mulheres das etnias Macuxi e Wapichama, de
Roraima, que apresentaram um tipo de música típica conhecida como parixara -,
eles reclamaram da violação ao seu direito à terra.
De acordo com a diretora
nacional da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Sônia Guajajara,
os indígenas podem mostrar ao mundo o que é ser sustentável por meio de suas
práticas de uso da terra sem destruí-la.
"Estamos aqui para fazer um
contraponto à Rio+20, para mostrar o nosso jeito indígena de ser sustentável.
Muitas vezes o que se define como Economia Verde não é o que entendemos que
representa a real harmonia com a natureza", disse, durante uma coletiva de
imprensa na manhã de hoje (15).
A representante da
Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, de Minas Gerais e
do Espírito Santo (Apoinme), Ceiça Pitaguary, destacou que a lentidão na
demarcação dos territórios indígenas leva muitas lideranças a serem
criminalizadas por causa da retomada de terras tradicionais.
"Somente em Pernambuco, em
apenas um povo, há 35 lideranças no banco dos réus por terem retomado suas
terras. Primeiro nós queremos o direito à terra, e só depois as outras
políticas públicas", enfatizou.
A mesma preocupação foi
manifestada pelo representante da Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul
(Arpinsul), Otoniel Ricardo. Segundo ele, mais de 200 lideranças indígenas
morreram desde o ano passado por causa de conflitos ligados à terra no Sul.
"Nossos líderes estão morrendo e eu posso ser o próximo."
O representante do Conselho
Continental da Nação Guarani, que reúne indígenas da Bolívia, do Paraguai, da
Argentina e do Brasil, Celso Padilha, convocou os povos de todas as etnias,
independentemente do país onde vivem, para que unam forças e lutem pela
preservação de seus territórios, de sua cultura e de seus costumes.
"Não podemos falar em
desenvolvimento sustentável se não tivermos terra e autonomia. Temos que unir
nossas mãos e dizer que não queremos esse modelo de economia verde. Não podemos
negociar nossos costumes, nossas tradições, nossas terras", ressaltou.
O líder indígena conhecido
internacionalmente por sua luta pela preservação da Amazônia, Cacique Raoni, da
etnia Caiapó, também conclamou a união dos povos indígenas, principalmente dos
jovens, na defesa de seus interesses coletivos.
"Temos que lutar e falar dos
nossos problemas. Não podemos aceitar o que o homem branco tem feito ao nosso
povo. Precisamos lutar pelos nossos direitos, pelas nossas terras. Enquanto eu
estiver vivo, vou lutar", enfatizou, sendo aplaudido por diversos participantes
da cúpula.
O líder também criticou a
construção de grande empreendimentos que trazem prejuízos aos territórios
indígenas, como a Usina de Belo Monte.
Acompanhe a cobertura multimídia da Empresa Brasil
de Comunicação (EBC) na Rio+20.