A continuidade do Seminário
Internacional "Os desafios dos trabalhadores e das trabalhadoras no
enfrentamento da crise", durante o 11º Congresso Nacional da CUT - 11ºCONCUT,
se transformou na reafirmação dos laços de solidariedade entre os povos na luta
contra a redução do Estado e a retirada de direitos sociais, medidas que acabam
importando a crise que afunda as economias dos países capitalistas centrais.
Na mesa "As várias faces da
crise", Victor Baez, secretário geral da Confederação Sindical dos
Trabalhadores e Trabalhadoras das Américas (CSA), afirmou que a saída para
crise deve reunir medidas em defesa do emprego, salário e direitos, mas passa
também pela taxação das grandes fortunas, das transações financeiras e dos
ganhos das multinacionais. "Precisamos aumentar os impostos dos mais ricos para
favorecer o desenvolvimento", declarou o dirigente da CSA. E questionou: "Como
podemos tirar milhares da pobreza se os ricos não pagam impostos pelo
patrimônio nem pelo fluxo de capitais?"
Vladimir Safatle, filósofo e
professor doutor da USP fez coro a esta que também é uma reivindicação da CUT,
visando a mudança da atual estrutura fiscal regressiva em nosso país, onde os
pobres são mais taxados do que os ricos. "O Estado precisa ter coragem de taxar
aqueles que ganham mais. Se tiver que acirrar os conflitos de classe, que assim
seja. Isso nunca ocorreu na América Latina. Passamos por séculos sem que algum
governo colocasse esta questão na agenda prioritária e isso tem que acabar",
defendeu.
Com a eclosão da crise
econômica e sua chegada ao Brasil, a CUT e suas entidades filiadas foram às
ruas, aumentaram a pressão e reafirmaram que os trabalhadores e as
trabalhadoras não pagariam pela crise criada pelo sistema financeiro, lembrou o
secretário de Relações Internacionais da CUT, João Felício.
E assim, com intensa e importante intervenção
do movimento sindical, o Brasil passou por uma rápida recuperação da economia.
"Mas temos que reafirmar diariamente que a luta pela superação da crise e a
construção de um novo modelo de desenvolvimento passa fundamentalmente pelo
fortalecimento do mercado interno, pela defesa do patrimônio público e do
controle do Estado sobre as nossas riquezas", destacou Felicio
Roland Scheneider, assessor político senior da
Trade Union Advisory Commitee (TUAC), discorreu sobre o panorama da crise na
Europa e o impacto daninho para a classe trabalhadora. Ele lembrou que a luta
contra o desemprego encontra forte oposição e resistência, citando três
categorias: primeiro, a dos inimigos do movimento sindical, que se opõem fortemente
à interferência do governo na economia; segundo, os que são contrários aos
investimentos públicos e, terceiro, os que se opõem a mudanças sociais que
busquem o pleno emprego".
"Para a OCDE, FMI, Banco Central Europeu e
países do G20, a redução do déficit do governo deve ser feita via redução de
salários e chantageiam os países europeus com essa agenda. Uma pesquisa do
próprio FMI entre 1988 e 2009 aponta que as políticas de austeridade fiscal
resultam em contração da economia e maior desemprego, o que acaba acirrando
ainda mais a crise".
Democracia real - O professor Vladimir Safatle alertou em sua fala para o que chama de
"esgotamento do modelo", que não é apenas econômico, mas social e político.
"Crise econômica exige como resposta a democracia real. Enquanto não houver um
sistema político que dê condições para a participação direta das classes mais
vulnerávies, pode se dizer que não haverá remédio efetivo para esta
problemática. Por isso, creio que esta é uma oportunidade para colocarmos em prática
a agenda da democracia real, igualitarismo radical e universalismo. Defendemos
uma estrutura política com grande participação popular que permita realizar os
princípios básicos da democracia, que atenda a população, a quem paga, sem
decidir, pelos rumos do desenvolvimento."
Na avaliação de Safatle, está havendo um
esgotamento de um modelo marcado pelo endividamento das famílias, uma vez que o
arrocho salarial vem corroendo o poder de compra dos trabalhadores.
"Se o estado brasileiro fosse capaz de disponibilizar
à sua população uma educação e uma saúde pública de qualidade sobraria mais
dinheiro para as famílias e, consequentemente, haveria uma melhora na economia.
A falta de investimento nestes setores é um bloqueio para o desenvolvimento
nacional. É complicado quando você ouve do ministro da Fazenda que aumentar
para 10% do PIB o investimento na educação vai quebrar a economia. Só alguém
que não tem consciência dos nossos problemas e gargalos pode afirmar isso."
Golpe no
Paraguai - O secretário geral da
CSA, Victor Baez, lembrou que o Mercosul suspendeu a participação do governo
golpista do Paraguai, mas evitou maiores sanções alegando que é preciso poupar
o povo paraguaio. Ele lembrou que o processo de combate à pobreza e de justiça
social em curso no país foi jogado por terra com o golpe. "O não aprofundamento
das sanções é que vai favorecer o sofrimento do povo paraguaio", acrescentou
Baez, reforçando a importância da integração dos governos progressistas da
América Latina para a superação da herança neoliberal.
João Felicio recordou aos presentes que um
exportador de soja no Paraguai paga apenas 1% de imposto e isso explica um
pouco do golpe ocorrido no país, quando o governo de Fernando Lugo buscava
alterar a ordem tributária para viabilizar o desenvolvimento do país. "Qualquer
governo que busque mudanças com distribuição de renda e justiça social será
alvo da manipulação midiática e de setores conservadores da sociedade",
alertou.
O presidente da CUT Autêntica do Paraguai,
Bernardo Rojas, agradeceu a solidariedade manifestada pela CUT e pelo conjunto
dos movimentos sociais e governos progressistas do Continente contra o golpe e
reafirmou que cresce a resistência contra o retrocesso. A agenda negativa já
iniciou, denunciou Bernardo, citando a demissão massiva de funcionários
públicos e o congelamento de salários. "No dia 20 de outubro realizaremos um
Congresso Extraordinário para debater e deliberar ações frente ao golpe",
informou.
Solidariedade à Palestina - Representando a
Federação dos Novos Sindicatos da Palestina, Mohammed Blaidi agradeceu o
empenho da CUT Brasil para a realização do Fórum Social Palestina Livre, que
acontecerá
Participou também desta mesa o representante
da Confederação Italiana Sindicatos Trabalhadores (CISL), Raffaelle Boninni.