Quase 20% da população de 15 anos ou mais em Mato Grosso é analfabeta funcional. O Estado tem o pior índice do Centro-Oeste, seguido por Mato Grosso do Sul (17,7%), Goiás (16,6%) e Distrito Federal (9,3%) e supera a taxa nacional que é de 16,6%. Os dados constam no Relatório do 2° Ciclo de Monitoramento das Metas do Plano Nacional de Educação (PNE), divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Especialista e Sindicato dos Trabalhadores do Ensino Público de Mato Grosso (Sintep-MT) expõem diversos fatores que colaboram com o crescimento do analfabetismo funcional, dentre eles está a falta de estrutura nas escolas, profissionais qualificados, motivação a busca de conhecimento e até mesmo a reforma do ensino médio.
A meta 9 do PNE busca elevar a taxa de alfabetização da população com 15 anos ou mais para 93,5% até o final da vigência do plano (2024), erradicar o analfabetismo absoluto e reduzir em 50% a taxa de analfabetismo funcional. Em se tratando deste último, o levantamento aponta para ascensão entre 2012 e 2016. Entre 2012 e 2015 a porcentagem variou entre 18,5% e 17,5%, tendo um salto significativo em 2016, passando para 19,2%, o maior do Centro-Oeste.
Apesar de Mato Grosso ter 80,8% de sua população considerada não analfabeta funcional, os números ainda são preocupantes. É como avalia a consultora pedagógica e especialista em Direito Educacional, Maria Eliana Moraes, que explica que uma pessoa considerada analfabeta funcional sabe escrever seu próprio nome, assim como lê e escreve frases simples, efetua cálculos básicos, porém é incapaz de interpretar o que lê e de usar a leitura e a escrita em atividades cotidianas. Isso impossibilita seu desenvolvimento pessoal e profissional. “É um problema grave e cada vez mais recorrente no país e, em Mato Grosso, não é diferente”.
Segundo a especialista, quando se fala de analfabetismo funcional muito há o que se discutir. Ela explica que este pode estar ligado a inúmeros fatores físicos, mentais e comportamentais. Todos estes juntos se resumem na falta de motivação. Inexistência de laboratórios de ciências e informática, uma biblioteca atualizada, quadras esportivas, refeitório, disciplinas extracurriculares como dança e teatro.
Moraes enfatiza que a “Declaração Mundial sobre Educação para Todos” aponta que no mundo mais de 960 milhões de adultos são analfabetos funcionais. Em sua maioria, estas pessoas não tem acesso ao conhecimento impresso e as novas tecnologias que poderiam melhorar a qualidade de vida e ajudá-las a se adaptar as mudanças sociais e culturais. Realidade que pode ser observada em muitas escolas do Estado. “Apenas 1 entre 4 brasileiros consegue ler, escrever e utilizar essas habilidades para continuar aprendendo”.
Vice-presidente do Sintep-MT, Jocilene Barboza dos Santos diz que os dados do relatório com relação ao analfabetismo funcional mostra o quanto ainda falta para o aluno encontrar a plenitude do conhecimento ao longo de sua vida escolar. Segundo ela, a situação vem de encontro com o que o sindicato cobra há muito tempo do governo, que é a descentralização de investimentos em apenas algumas áreas, como o ensino a distância, por exemplo.
A situação pode ficar ainda mais crítica no próximo relatório, já que nele será possível ver o reflexo da reforma do ensino médio, pontua a sindicalista. Currículo mínimo, com inserção de cursos técnicos, isenção de várias disciplinas, são fatores que podem tornar o aluno mais desinteressado na busca por conhecimento e, consequentemente, favorecer o analfabetismo funcional, enfatiza Santos.
Avanços
Mesmo tendo a maior porcentagem de pessoas analfabetas funcionais da região Centro-Oeste (19,2%), a Secretaria de Estado de Educaçao (Seduc) comemora avanços que devem colaborar com a mudança desse cenário. De acordo com a pasta, em 2017 foram investidos R$ 180 milhões em orçamentos e convênios voltados para a infraestrutura e a mesma quantidade será investida na área no decorrer deste ano. Além disso, foram implantadas 39 escolas plenas e salários de professores foram reajustados, o que significa a valorização dos educadores do Estado, de acordo com a pasta.
Assessoria
Atualmente, estão em andamento cerca de 100 obras de escolas entre construção e reformas, a construção de um Centro Integrado Escola Comunidade (Ciec) e quadras poliesportivas.
Assessor técnico pedagógico da Secretaria Adjunta de Política Educacional da Seduc, Daltron Maurício Ricaldes ainda destaca a implantação do projeto Muxirum, que pretende tirar 11 mil pessoas da situação de analfabetismo. Segundo ele, até o momento mais de 4,6 mil mato-grossenses já foram alfabetizados no Estado. “Também temos o programa Professor Articulador, um Centro de Formaçao que capacita professores e um projeto estadual em que o governo paga para que cada professor estude 4 horas por semana”.
Ricaldes lembra ainda que na linha de tentar aproximar o aluno da escola, o governo criou programas que relacionam o esporte e estudo, como a Arena da Educação e o Esporte na Escola, criados para promover a prática esportiva em diversas modalidades para todos os alunos da rede pública. “Acreditamos que estes investimentos ajudarão a reduzir o número de analfabetos funcionais em Mato Grosso, pois são meios de estimular tanto professores, quanto alunos, na busca por conhecimento”, finaliza.
Gazeta Digital/Elayne Mendes